“Entre névoas, segredos sombrios uivam ao vento. O tão esperado dia 31 chegou! Sob a lua minguante, realizamos nossos feitiços para esse evento. Hahaha! O Hallowmuertos já é uma maldição da FURG”.
O pitoresco trecho acima, lido por três estudantes trajadas como bruxas de contos da ficção, fez parte do protocolo de abertura da edição 2023 da tradicional Festa de Hallowmuertos da FURG em Santa Vitória do Palmar. Promovida por professores de línguas estrangeiras do campus, a atividade – que incorpora pedagogicamente elementos de dois importantes festejos populares internacionais, o do Halloween (Estados Unidos) e o do Día de los Muertos (México), entusiasmou a comunidade acadêmica com suas criativas atrações culturais.
Este ano, a festa teve como temática celebrações ritualísticas, recuperando os costumes latino-americanos de cultos a santos apócrifos – figuras veneradas como santidades, mas que não são oficialmente reconhecidas pela Igreja Católica ou por outras religiões tradicionais – como a Santa Muerte (santa mexicana protetora de pessoas marginalizadas), Juan Soldado (mártir mexicano protetor dos imigrantes) e Gauchito Gil (milagreiro argentino que intercede pelas situações difíceis). As imagens destes, e também de outros santos apócrifos, estiveram expostos junto ao altar de comidas (setor de alimentação da festa), situada no saguão do prédio do Laboratório de Pesquisa em Turismo (Latur).
A programação do evento, além do afamado desfile de fantasias, apresentou outras três atrações culturais, ocorridas simultaneamente em diferentes instalações do campus. No auditório do Latur, uma sessão de cinema exibiu cenas famosas de consagrados filmes de terror, como O Exorcista (1973) e O Iluminado (1980). Na sala de convivência dos servidores, velas e crucifixos invertidos compuseram o cenário de uma encenação de possessão espiritual inspirada no longa metragem australiano Talk to Me (2022). Completando o repertório de atividades, a Balada Monster, realizada na sala dos diretórios acadêmicos, fez o público “balançar os esqueletos” em um ambiente minuciosamente decorado. Também nesse espaço, foram servidos drinks (sem álcool), produzidos por alunos da disciplina de Coquetelaria.
De acordo com a professora e idealizadora do projeto, Bitisa Mascarenhas, esta edição do Hallowmuertos foi indicadora da potência da festa, evidenciando a capacidade das comissões organizadoras em contornar diferentes imprevistos, desde as condições climáticas até o rearranjo dos espaços em virtude das atividades acadêmicas que seguiram regulares no campus: “Nada atrapalhou a mobilização dos nossos alunos organizadores da festa, que trabalharam com entusiasmo e dedicação, antes, durante e, não menos importante, depois, desmontando tudo que havia sido montado e limpando os espaços utilizados, num extraordinário trabalho de equipe”.
Ainda segundo a docente, foi fundamental o empenho dos servidores que, percebendo a importância do evento, estiveram envolvidos na atividade viabilizando caminhos para o protagonismo dos estudantes: “A alegria e o show de caracterizações que vimos na noite de 31 de outubro foram e são a cereja do bolo. Essa é uma sensação que perdura nas mentes de nossas alunas e alunos, o que indica, para mim, que esse evento concentra, no ano acadêmico, uma tremenda energia criadora de reservas de alegria, constituindo-se como um vetor de saúde emocional para nossos estudantes”.
O coordenador executivo da atividade, professor Wellington Machado, também destaca o potencial do Hallowmuertos na promoção do bem-estar estudantil, e mais, aponta a importância disso no enfrentamento à evasão, que assombra, sem aspas, universidades afastadas dos grandes centros urbanos: “Os alunos se movimentam bastante a partir da nossa proposta e isso acaba os conectando ainda mais com a universidade, com a ideia de planejar e assumir o papel protagônico dentro de uma atividade que, de alguma maneira, envolve todos os cursos do campus. Eu acredito que isso auxilia na redução desse movimento de fuga dos estudantes. [...]. Somamos esforços para fazer a festa acontecer e o melhor retorno é ver os alunos bem, porque é um momento saudável no qual eles se divertem muito”.
Originada de forma despretensiosa para trabalhar questões de língua estrangeira no ano de 2016, a Festa de Hallowmuertos tem se consolidado como uma importante atividade de lazer e integração entre professores, técnicos e estudantes dos diferentes cursos de graduação do campus, conforme avaliam alguns de seus participantes.
Entusiasta da festividade, o administrador do campus, Reinaldo Braga, comenta que a edição deste ano superou suas expectativas. O servidor, que viabilizou o uso dos espaços administrativos à organização do evento, elogiou as atrações apresentadas, ressaltando que nem mesmo o tempo chuvoso atrapalhou a diversão da festa.
Com opinião semelhante, a secretária geral do Ila, Ana Cláudia Saraiva, parabeniza todos os envolvidos na atividade. Jurada do desfile de fantasias, a assistente em administração do campus Carreiros destacou a criatividade – tanto das caracterizações dos participantes quanto das intervenções culturais que foram propostas. “Foi muito legal. Eu nunca tinha participado de nenhum júri. A festa também estava bem decorada, mesmo sem muitos recursos em Santa Vitória para atividades assim – e, com os recursos disponíveis, os organizadores utilizaram com bastante criatividade. Espero que a festa cresça cada vez mais e que, futuramente, o evento possa integrar a cidade como um todo”.
Por fim, pela perspectiva discente, o acadêmico Elton Viegas relata que a Festa de Hallowmuertos é uma atração muito aguardada pelos alunos. Vencedor das duas últimas edições do desfile de fantasias, o estudante – este ano caracterizado como a boneca M3gan (em referência ao filme de mesmo nome, de 2022) – conta que suas caracterizações são planejadas com antecedência e que, contornando a timidez, “entra de cabeça na personagem” para entregar uma boa performance aos jurados.
