46ª Feira do Livro

Minha história com a feira: Wagner Passos

Projeto inspirado pelo tema da feira deste ano convida o público a compartilhar suas vivências

Foto: Fernando Halal/Secom
Wagner Passos

“Um passado de memórias, um futuro de histórias”. O tema que a FURG escolheu para marcar as comemorações de seu cinquentenário inspira o projeto que a Secretaria de Comunicação (Secom) apresenta nesta edição do evento. A série Minha história com a feira registra relatos de visitantes da 46ª Feira do Livro sobre suas vivências significativas com esse lugar especial que há 40 anos faz parte da vida da universidade.

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Wagner Passos – 39 anos

A minha história na Feira do Livro é longa. A primeira vez que eu vim na Feira do Livro foi em 1995, creio eu. Ela ainda era na Avenida Rio Grande. E vir pro Cassino era uma coisa bem difícil. Tinha ônibus só de hora em hora. E quando eu, que morava na Vila São Miguel e tinha que pegar o ônibus ali na faixa perto da Madeireira Cassino, às vezes o ônibus passava já ‘especial’ e eu não conseguia pegar. Então, era uma epopéia, realmente. O Cassino era outra cidade. E é muito legal. Eu tenho na minha memória a Feira do Livro na avenida. E era muito bonito.

“A feira se cruza com a minha relação com a arte”

Em 1998, eu entro na FURG e em 1999 foi o ano que eu comecei a trabalhar na feira na Brinquedoteca. Eu fazia tatuagens na Brinquedoteca. De 1999 a 2001, eu trabalhei na Brinquedoteca. Então, eu tô trabalhando na Feira do Livro faz 20 anos. Desde a época em que eu entrei pra Contábeis na FURG. E desde essa época, eu comecei a desenhar. E aí a feira se cruza com a minha relação com a arte. Em 2014, na Feira do Livro de 2014, nós criamos a Usina das Artes. Era uma ideia de coletivo pra organizar as produções independentes. E a partir daí, a Proexc entendeu que precisava ter um estande, um espaço dinâmico pra produção local. E a gente tem disponibilizado esse espaço pra feira com foco no autor local e na produção local.

“Revolução”

[Sobre o movimento dos escritores de Rio Grande com a Feira do Livro] Revolução. Porque todo mundo pensa que pra escrever um livro tu precisa estourar nacionalmente com uma grande editora. Mas as grandes editoras não têm interesse em produzir algo local com foco nessa identidade local. O foco é vender livro pro maior número de pessoas possível. E Rio Grande é uma cidade histórica onde as pessoas não conhecem sua história. E a cidade tem muito valor. Quando tu conhece a história da cidade, tu vê coisas que tu nem imaginava que aconteceu aqui. A história dos indígenas, dos escravos, do porto, a política e a própria história do povo. Quando tu muda a lógica das grandes editoras, tu tá fazendo revolução. A produção local, a produção independente quebra a lógica da indústria e oferece pra uma população como a nossa histórias locais, histórias que se passam em Rio Grande. E o mais bacana que a gente têm visto nesses cinco anos: o leitor vindo valorizar o escritor. Algo que eu desde 1999, participando da Feira do Livro da FURG, nunca tinha visto. É aquela coisa ‘Santo de casa não faz milagre. Mas quando faz, ninguém acredita’. E as pessoas estão começando a acreditar. E isso é o legal. 

[O poder do livro] É um registro de um momento. De um momento do artista que tá escrevendo ou desenhando o livro. E do tempo. Hoje a gente tem um problema na nossa sociedade, em que [há] várias pessoas que não leram, que não estudaram... O que estamos passando no Brasil é uma negação do conhecimento. É uma negação da história. Existem pessoas negando o Holocausto, existem pessoas negando a Ditadura Militar porque elas não viveram. Elas podem olhar a foto, elas podem ver filmes, mas elas não viveram. Elas não tiveram a sensação de medo, de fome. Elas não viveram isso, então não passa do imaginário. E o livro, a leitura tem a capacidade de permitir que a pessoa desperte o sentir. Então, toda vez que tu lê um livro de história, de poesia... Quando tu lê um livro de poesia tu sente um pouco, mesmo que seja um fragmento, tu querendo ou não, tu sente um pouco daquilo que o poeta sentiu. O livro é muito mais poderoso. E ele é uma máquina no tempo. Tanto pro passado quanto pro futuro. Os filmes se degradam. A fotografia se apaga. Aqui na nossa biblioteca rio-grandense nós temos livros de 500 anos atrás. Esse cara que escreveu um livro há 500 anos, está sendo lido hoje. No livro tu pode deixar uma mensagem pra que o leitor do futuro possa acessar um pouquinho a vida presente.

 

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Minha história com a feira: Wagner Passos

Fernando Halal/Secom