EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Projeto Pancpop promove degustação de receitas Panc na Feira Livre de São Lourenço do Sul

Previsão é que a ação aconteça mensalmente, com o objetivo de partilhar saberes sobre o uso das Plantas Alimentícias Não Convencionais na culinária

Photograph: Laura Becker/Pancpop

Por muito tempo, as Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) foram desconsideradas ou desconhecidas do grande público, apesar de serem altamente nutritivas e benéficas para a saúde. Embora tenha havido mudanças nos últimos anos, com maior oferta e produção dessas espécies em nível nacional e internacional, muitas pessoas ainda não sabem como incluí-las em sua alimentação.

Para enfrentar essa lacuna, o projeto Pancpop da FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS) promoveu no último sábado (11), uma degustação de receitas Panc na Feira Livre de São Lourenço do Sul. A equipe do projeto deu destaque ao coração de bananeira, que foi servido junto de um pão enriquecido com três folhosas Panc: ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), major-gomes (Talinum paniculatum) e bertalha-coração (Anredera cordifolia).

A ideia surgiu a partir de uma demanda dos próprios feirantes, trazida durante a realização do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da acadêmica Carina Rush, apresentado em janeiro de 2023 - ainda não disponível no sistema de Bibliotecas da FURG -, que tratava das percepções dos agricultores em relação à comercialização das Panc. A partir da pesquisa, percebeu-se a diversidade de oferta de espécies Panc em suas bancas, junto da necessidade de iniciativas que tragam maiores informações aos consumidores, que ainda têm pouco conhecimento sobre as espécies, seus potenciais nutritivos e sabores.

Coordenadora do Pancpop e docente do Campus São Lourenço do Sul, Jaqueline Durigon, conta que os feirantes sugeriram as degustações como uma estratégia para difundir conhecimentos acerca das plantas e atrair potenciais consumidores. “O coração de bananeira é uma das espécies de Panc que eles ofertam bastante e apontaram que precisava de mais informações aos consumidores, que sempre tinham muita dúvida de como preparar, como utilizar e por isso acabavam não comprando”, explica.

Com a degustação agendada, a equipe do projeto realizou o contato prévio com os feirantes, estimulando que fossem levadas mais unidades de coração de bananeira para comercialização no dia. Como resultado, as vendas aumentaram. "Isso foi bem interessante. A degustação promovida no sábado estimulou a comercialização", diz a professora.

Na oportunidade, a equipe do projeto também entregou aos presentes um folder específico da receita com a Panc, e expôs produtos desenvolvidos pela equipe Pancpop, como camisetas, canecas e temperos. Estima-se que cinquenta pessoas prestigiaram a ação.

A partir do sucesso da degustação, a intenção da equipe é repetir a iniciativa uma vez a cada mês, sempre dando destaque a uma Panc diferente. Entre as espécies indicadas pelos feirantes para serem incluídas nas próximas receitas, estão o peixinho-da-horta (Stachys byzantina), o hibisco vinagreira (Hibiscus sabdariffa), o picão-branco (Galinsoga parviflora) e o picão-preto (Bidens pilosa).

Campo de estudo e transformação

Egressa do curso de Agroecologia da FURG-SLS, Camila Valente, que atualmente é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com um projeto sobre a aproximação de agricultores e consumidores sobre as Panc, conta que foi a partir de sua vivência com o Pancpop, ainda na graduação, que teve oportunidade de conhecer mais sobre as Panc, os usos, preparos e estudar um pouco mais sobre os seus benefícios.

Hoje voluntária do projeto, Camila colaborou com o preparo do coração de bananeira para a Feira. “O coração de bananeira é mais conhecido como medicinal, ele é muito utilizado como xaropes para bronquite e asma. Além disso, contém substância anti-inflamatória e antioxidante. É boa fonte de fibra, aminoácidos essenciais e carboidratos. Fonte vitamina E. Fonte de minerais como: magnésio, potássio, cálcio, fósforo e ferro”, explica.

Ela conta que o que mais lhe motiva a seguir tendo as Panc como objeto de estudo é saber que há uma diversidade de alimentos de qualidade na natureza e as espécies não convencionais são, muitas vezes, negligenciadas e subutilizadas pelos os sistemas produtivos. “É muito importante a nossa mudança de olhar para a alimentação, pois a agricultura industrial escolhe o que plantar e o que devemos comer, simplificando as nossas opções de alimentos”.

Camila compreende que as Panc vão na contramão do cenário que tenta ser imposto pela agricultura industrial. “Temos um universo de possibilidades com as Panc. Esse conhecimento precisa ser resgatado e valorizado. Muitas Panc têm usos tradicionais, têm grande importância cultural no nosso país, além de terem grande importância na conservação do patrimônio genético. Se você usar aquela espécie você vai conservá-la. Então, comer Panc é uma maneira de conservar as espécies”.


Conhecimento aplicado à realidade local

O projeto Pancpop é estruturado em três etapas: formação, sensibilização e intervenção. Segundo Jaqueline, a ação proposta na feira dialoga com os eixos de sensibilização e intervenção, pois a interação desenvolvida com a comunidade, com o público consumidor da feira e com os feirantes, além de sensibilizar as pessoas, intervém na realidade, atuando junto a quem se interessa em comercializar e produzir as Panc.

A coordenadora destaca que o projeto envolve um grande número de estudantes da universidade e busca abarcar uma multiplicidade de públicos, incluindo feirantes, consumidores das feiras e comunidade em geral. As ações são construídas de forma participativa, buscando atender às demandas das pessoas e incluindo os indivíduos em um fazer coletivo. “Eu acho que é um projeto que consegue mobilizar muitas pessoas e mais do que isso, para além do que elas participarem das atividades, essas pessoas constroem essas atividades. As atividades são pensadas junto com essas pessoas, a depender das demandas delas”.

Para a docente, isso fortalece o papel social da universidade. “Isso que eu acho o mais incrível e o mais importante: a gente entender a universidade como um espaço de atendimento às demandas da sociedade e a formação dos estudantes também ser voltada às questões sociais e ambientais dos locais onde esses futuros formandos, esses agroecólogos estarão inseridos. O Pancpop traz muito isso, da gente desenvolver ações conectadas à realidade local, e isso inclui o ambiente, as pessoas, a dinâmica social do lugar”, afirma.

Um elo a partir da alimentação

Para Jaqueline, as Feiras Livres existentes tanto a nível estadual, como nacional, têm sido espaços de popularização das Panc, seja pela apropriação que os feirantes têm dos conhecimentos tradicionais, como pelo diálogo diferenciado que acontece nesses espaços, de interação, troca e proximidade entre as pessoas.

Ela comenta que a Feira Livre de São Lourenço do Sul já é um local de atuação da equipe desde o início do projeto, em uma relação que se fortalece principalmente junto às bancas agroecológicas, uma vez que o Pancpop trabalha principalmente no âmbito da agroecologia, que vê as Panc como plantas importantes para o manejo agroecológico, nos papéis que inclusive elas têm na produção de outras hortaliças convencionais. “A Feira é um local muito importante porque diferentemente de um supermercado, é um espaço de grande troca e interação entre quem vende e quem compra e entre as pessoas que vendem e as pessoas que compram. Quando a gente se coloca junto à Feira a gente consegue dialogar com públicos diversos e públicos que estão conectados pelo ato de alimentar-se”, afirma.

 

 

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Foto: Laura Becker/Pancpop